sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A mãe do pai

A mãe do pai.

"A mãe da mãe tem as portas abertas.
Liberdade, intimidade, jeitinho.
É coadjuvante da novidade, doadora silenciosa do amor.

domingo, 6 de janeiro de 2019

João Carlos Resende, médico do Hospital do Câncer de Barretos, contou sobre uma consulta com Dona Socorro, uma paciente com câncer que esteve em retorno com ele...

Semana curta e cansativa, cor ouação agitado, mente num turbilhão.
 Deus hoje resolveu me visitar.
Ele tinha um corpo franzino, rosto marcado pelo sol, mãos com sutil aspereza de quem trabalhou pesado a vida toda e um cheiro de lavanda misturado com as cinzas de um fogão de lenha.
Ele falava de um jeito bonito e simples, arrastado e vindo lá do Goiás.
Vestia a melhor roupa que tinha, colorida, bem cuidada, mas respingada da sopa que serviram antes da consulta. O sapato de algodão listrado não combinava com a blusa florida… ah, mas Ele era Deus e podia tudo. Seus olhos fugiam dos meus. Como podia Deus se fazer pequeno assim?
Logo lembrei que Ele sabe muito bem fazer isso. Lembrei que Ele foi homem, é pão e será sempre grande, pequeno Deus.
Parecia envergonhado, ansioso pela notícia, infelizmente não tão boa. Estava cansado da viagem, da sala de espera lotada e de anos de luta contra o câncer.
Diante da grandeza à minha frente, aumentei minha pequenez para que pudesse caber na menor brecha que ousei adentrar naquela vida.
A doença mudou, progrediu e voltou a judiar. Aquele remédio que tanto cansava e nauseava aqueles poucos quilos tão frágeis se faria necessário mais uma vez.

“Mas, Dotô. Não diga isso.”

Seu rosto se entristeceu e quanto me doeu ver Deus sendo gente ali diante de mim.
“D. Socorro, não fica triste.
O doutor aqui tem coração mole e pode chorar.”
Olhou para mim e pude ver o brilho dos olhos sábios dizendo: “Vou chorar em casa, para o senhor não olhar.”
Como aquilo me engrandecia.
Como pode Deus me visitar assim?
Ali acabou meu cansaço.
Ali só coube emoção. Examinei aquele corpo pequeno. Coração forte e barulhento, pulmões que sopraram em mim o sopro da vida e contemplei o mais belo sorriso com as cócegas geradas ao palpar seu abdome. Pensava comigo o quanto eu queria, com minha mão, retirar cada um daqueles tumores e ao mesmo tempo me emocionava porque, com aquela visita, Deus retirava cada um dos meus, não físicos.
Minha prescrição seria o que menos importava ali, mas assim mesmo a fiz.
“D. Socorro, vou prescrever aquele remédio chatinho, mas para tentar controlar a doença da senhora.”

Humilde, respondeu: “É o jeito.”

No final de tudo, depois de eternos poucos minutos de graça, Deus olhou para mim e disse: “Dotô, o resto pode estar doente e não prestar, mas meu coração é grande e bom.” Ah, Deus! Que coração.

Já emocionado, apenas pedi um abraço e agradeci por tudo aquilo. Ganhei mais. Ganhei uma foto, um carinho no rosto e a certeza de que Deus sempre está comigo e sempre me visita de diversas formas. Hoje Ele me visitou, me curou e me deu força para continuar. Ironicamente, saiu daquela sala e falou:

Fica com Deus, Dotô.”
“Estive com Ele, D. Socorro.”