domingo, 26 de fevereiro de 2017

O Purperio Masculino

Achei super interessante este texto....vale a pena ler

Por: Yuri Rodrigues da Cunha / www.geracaomae.com.br

Muito embora o puerpério seja um substantivo designado às mulheres no período pós-parto, quando ela passa por uma série de transformações biológicas e hormonais logo após o trabalho de parto, busco aqui nesse texto fazer uma interpretação, não do ponto de vista biológico, mas
, da nova fase em que a mulher e o homem (em nosso caso) estão passando, sobretudo na adaptação e conhecimento do novo ser que veio ao mundo, e a forma como eu, um homem, tenho passado.

O intuito do texto não é falar da mulher, mas sim, de uma interpretação para nós, homens, desse período mais imediato ao pós-parto que é também bastante complexo e confuso. Para as mulheres, felizmente, há uma ampla rede de apoio constituído historicamente que permitem que passe por essa fase de maneira mais segura, ainda que não o seja completamente; e, fico me perguntando, e para nós, o que há? De que maneira nós podemos construir uma rede de apoio aos homens e como essa possível rede de apoio pode ajudar não só em nossa adaptação, transformação e entrada no mundo da paternidade, mas também, nos deixar mais sensíveis às profundas transformações que nossas companheiras estão passando? Portanto, a ideia aqui é buscar um olhar masculino desse período que possa contribuir no processo de paternidade de outros pais.

Nossa filha completa hoje, quando iniciei esse texto, 43 dias (atualmente quase três meses), e não poderia iniciar sem dizer que minha esposa é praticamente um “peito ambulante”, pois a opção por uma amamentação de livre demanda exige isso. O peito não é só fonte de alimento à nossa pequena Antônia, é uma fonte de afeto, de conforto e principalmente de segurança, afinal há pouco saíra do útero e agora está em um mundo desconhecido, amplo, cheio de luminosidade, sons e cheiros, e precisa mais do que nunca de amplo cuidado e proteção, e manos, nesse primeiro momento são elas que podem proporcionar todo esse cuidado.

Assim, partimos do pressuposto que nessa fase inicial da vida extrauterina de nossa pequena filha, devemos oferecer e proporcionar toda a segurança e os afetos necessários para que ela se desenvolva de maneira segura, com mais confiança e que tenha maior autoestima. Isso não é pouca coisa, dar colo e peito sempre que necessário e deixá-la o tempo que for necessário, não faz com que ela se acostume mal como dizem muitas pessoas, mas que ela tenha todas as condições e as bases necessárias para que possa ser uma pessoa mais segura. Esse primeiro momento da vida é de suma importância que estejamos dispostos e com condições para isso. Portanto, os papéis da mulher e do peito são fundamentais e basilares para a construção da personalidade de nossa pequena Antônia, e é aqui que entra o “puerpério masculino”.

Imagine só vocês, manos, ter que amamentar (que não é só amamentar), com mil preocupações extras como: o cuidado com a casa, com o almoço, com a lavagem das roupas, administrar as visitas, com um monte de gente buzinando e dizendo o que você deve fazer, como deve cuidar de sua filha; além é claro, das preocupações com o próprio corpo, afinal, amamentar, segundo minha esposa, dói! E muito! Bem como com as preocupações com o filho. É aqui que devemos entrar, é aqui que temos que “assumir a bronca” e fazer o que historicamente nós rejeitamos a fazer: assumirmos todas as tarefas e os trabalhos domésticos e da administração da casa como um todo.

Vejam, é um turbilhão de coisas. “Mil fitas” acontecendo ao mesmo tempo e temos ainda que cuidar daquilo que negligenciamos. Nós homens, desde pequenos, não fomos educados a fazermos essas atividades, no máximo “ajudávamos” na organização da casa, talvez arrumar nossa cama, lavar uma louça e só! Nada muito além disso! A nossas irmãs sim, eram elas as responsáveis pelas atividades domésticas, varrer, passar pano, cozinhar, lavar louça, banheiro, quintal, varanda e etc. Agora, todo o trampo da casa é nosso, e num momento difícil para o casal.

Não aprendemos de pequenos esses cuidados do lar, e isso por quê? Justamente por uma lógica patriarcal e machista que persiste como uma dimensão estruturante das relações sociais, cuja uma das premissas é: nós trabalhamos fora e as mulheres “cuidam” da casa.

Essa dimensão influi e tem repercussões na maneira como lidamos com esse período do pós-parto.

O pós-parto é difícil, é um momento onde a mulher deve dedicar-se integralmente aos cuidados do recém-nascido, isso ainda, somado às dificuldades da amamentação, como dentre outras coisas, ficar com o bebê 24h no peito, bico rachado (que causa dores insuportáveis), etc; É justamente por isso que nós devemos cuidar de todo entorno para que ela possa cumprir essa difícil empreitada.

São nesses momentos de maiores dificuldades, geralmente nós homens, somos um tanto quanto egoístas, dificilmente queremos mudar nossa rotina, temos resistências em assumir todo o trabalho doméstico e administração da casa, não abrimos mão de sermos cuidados e de recebermos atenção, além ainda de esperarmos uma forma de relação que se assemelha ao período anterior da gestação, como por exemplo, na sexualidade.

Os cuidados que recebemos desde pequenos faz com que não tenhamos, muitas vezes, maturidade para lidar com esse momento. Sendo assim, um momento difícil e que não temos uma rede para nos apoiarmos, e detalhe (que não é um mero detalhe), ainda devemos conciliar tudo isso com o trabalho fora de casa, com as exigências de nossa jornada de trabalho. Ou seja, é osso!

Mas ainda assim é uma fase muito importante, que podemos tirar muitas lições, sobretudo na perspectiva de uma desconstrução do patriarcalismo e do machismo que teima em permanecer em nós, refletindo-se no que disse anteriormente.

Observar isso é colocar uma alcunha em nossa formação, é uma grande oportunidade para que nos modifiquemos e ajudemos na criação de nossas filhas e filhos para que eles sejam um adulto diferente de nós, que sejam mais humanos, sensíveis e colaborativos, com esses valores “naturalizados”, e não como em nós, que esteja empedrado e que a desconstrução é dolorosa e difícil, mas possível.

Fonte: http://www.geracaomae.com.br/paternidade/o-puerprio-masculino


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