quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Ter ou não ter filhos

Não há motivo racional pra se ter filhos. Não conheço nenhum. As despesas aumentam, o tempo livre diminue.
Não há garantia de retornos. Não há certeza de que vão cuidar de você na velhice, não há certeza de que os centavos e desgaste emocional investidos serão recompensados. Se for fazer uma lista de prós e contras, difícilmente a de prós será maior. A felicidade de se ter filhos às vezes se perde na rotina e eu não posso te dizer que seriam apenas sorrisos. Mas não tem final de copa do mundo ou Season  finale de GOT  que  seja  tão  emocionante quanto ver as estréias da vida de um ser humano. Primeiras palavras, primeiros passos, primeiras conversas. As primeiras letras e frases lidas. E não vai existir primeiro dia de trabalho que cause tanta ansiedade quanto o primeiro dia de aula dos pequenos. Ver um ser humano crescer é um presente por si só. É um exercício diário de altruísmo, porque a missão é tornar-se desnecessário. Importante, mas não essencial. Não há motivo racional para viver as noites em claro, as abdicações diárias. Mas também não há experiência que ensine tanto sobre a vida. Sobre a gente mesmo. Sobre a nossa pequenez no universo. Sobre a nossa própria grandeza. Sobre ser amado intensamente. Ter filhos é uma loucura. Mas eu tenho aprendido que as minhas maiores felicidades vieram das coisas mais loucas. A casa barulhenta, os choros e brinquedos musicais aos poucos dão espaços a outras fases e o mundo vai mudando até que eles batem asas e a casa volta a ser nossa, silenciosa. E o silêncio será preenchido pelas lembranças barulhentas. Não quero mais ter filhos, mas olhar um bebê me faz lembrar das gargalhadas distribuídas gratuitamente, do cheirinho que tomava o quarto depois do banho, das perninhas cheias de dobras. Esqueço do puerpério, das noites em claro, das milhares de lágrimas derramadas. As memórias cuidadosamente arquivadas foram as mais felizes. Não há razão na decisão de ter filhos. É irracionalidade, é quase insanidade. Mas tem valido a pena, mesmo que os cálculos não batam bem. Mesmo que a lista de contras seja muito maior. Na de prós estão razões emocionais que a objetividade jamais entenderá. Estão abraços, sorrisos, trocas e amor. É como querer explicar porque gostar do cheio da flor, de tomar banho de mar. É como querer expressar o que se sente numa noite de lua cheia, no calor de um beijo apaixonado, na festa de formatura. Não há motivo racional pra se ter um filho. Mas nem tudo precisa de razão, afinal. É jornada que vale pelo próprio caminhar e o que faz da vida mais feliz é aproveitar a paisagem. Já chorei em posição fetal inúmeras vezes por ter filhos, mas seguirei sendo do time do "tenha filhos." Tem seu lado ruim, mas nada é só bom.Tenha filhos.
Elisama Santos

IG: @elisamasantosc
YouTube/elisamasantosc

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